Bate-Papo, Sabático

30 países, 5 anos e a vida numa casa nômade

Sem poder mais abandonar a estrada, os jornalistas mineiros Renato Weil e Glória Tupinambás agora iniciam um novo projeto, a Casa Nômade, com qual pretendem percorrer as Américas. Eles perceberam – durante um mochilão de um ano e meio, que deu origem ao livro O Mundo em Minas – que o motorhome poderia ser uma forma de fazer turismo, desbravar lugares e conhecer culturas levando a cama e o restaurante juntos para onde fossem.

O casal nômade investiu as economias na montagem da casa sobre rodas e parte agora para a conquista de novos territórios, começando por Minas Gerais (na foto acima, em Sabará), passando por cerca de 30 países das três Américas.

Serão cinco anos de muito chão. Confira abaixo os detalhes da expedição com a Glória e veja as dicas que ela deu aos leitores do Planejo Viajar que sonham um sonho parecido.

O livro O Mundo em Minas será lançado amanhã no Memorial da Vale, em Belo Horizonte (MG), junto com uma exposição fotográfica que ficará em cartaz até 27 de setembro, com entrada gratuita.

Planejo Viajar – Como foi a preparação da Casa Nômade? 

Glória Tupinambás – Durante cinco meses, uma Mercedes Benz Sprinter 515, zero quilômetro, ficou confinada em uma oficina para se transformar no nosso lar. Dentro de uma carroceria baú de menos de 10 metros quadrados, coube, bem apertadinho, cama, banheiro, geladeira, fogão, máquina de lavar roupas, armários, mesa, cadeira, baterias, geradores, placas de energia solar e até uma moto.

Mas o sonho de construir um motorhome nasceu há dois anos, quando fazíamos um mochilão pela Austrália. Lá, alugamos um motorhome para viajar pela Costa do Pacífico e descobrimos que, daquela forma, era possível fazer turismo levando o carro, a casa e o restaurante juntos em um só lugar. A partir dessa experiência, começamos a reunir nossas economias para construir um motorhome com o objetivo de viajar pelos próximos cinco anos, pelas três Américas.

P.V. – Usaram recursos próprios ou foi um projeto de alguma lei de incentivo

G.T. – Usamos recursos próprios para montagem do motorhome da Casa Nômade. Ao todo, nós investimos R$ 160 mil. O objetivo principal da nossa viagem pelas Américas é produzir um livro e, este sim, deve ter apoio da Lei de Incentivo à Cultura. Atualmente, estamos finalizando um outro projeto  – O Mundo em Minas – em que percorremos 59 países, dos cinco continentes, para fazer um paralelo com a cultura de Minas Gerais. Nesse caso, a produção do livro teve o apoio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais.

P.V. – Como vocês conciliam as diferenças durante as viagens?

G.T. – Diferenças entre casal??? Sei que pode soar falso, mas eu e Renato quase não temos diferenças. Em 10 anos de convivência, nunca discutimos ou brigamos. Durante as viagens, conversamos muito para montar um roteiro interessante para os passeios e, quando surge alguma divergência de interesses, a gente negocia, cada um cede um pouco e acabamos chegando em um consenso, sem grandes tempestades.

A Casa Nômade chegando no Santuário do Caraça, em Santa Barbara.Serra do Caraca..santuario.

A Casa Nômade chegando no Santuário do Caraça, em Santa Bárbara (Foto: Renato Weil)

 

P.V. – Hoje muita gente tem vontade de largar tudo e viver viajando. Conciliar trabalho e viagem é realmente possível? É viável, financeiramente?

G.T –Como as férias ficaram pequenas para o nosso imenso desejo de viajar, decidimos fazer das viagens uma profissão. Mas essa decisão também implicou em uma mudança de padrões de vida. Nós alugamos um apartamento e um sítio para conseguir renda para viabilizar as viagens e cortamos de nossas vidas todo tipo de gasto supérfluo.

Todo o dinheiro antes gasto com roupas, sapatos, trocas de carro, reformas no apartamento, salão de beleza, etc, agora está canalizado para a Casa Nômade.

O motorhome é uma boa alternativa para fazer uma viagem de baixo custo. Apesar do investimento relativamente alto para a montagem, ele permite uma economia significativa em hospedagem e alimentação.

P.V. – Que conselhos dão para quem quer viabilizar o sonho de ser nômade, viajar e trabalhar ao mesmo tempo?

G.T. – Planeje-se! Antes de embarcar em qualquer aventura ou colocar o pé na estrada, é preciso ter um bom planejamento financeiro. Faça economias, reúna um bom pé de meia e vá em busca de um trabalho que lhe dê prazer. Ter essas garantias em mãos pode ser importante para dar estabilidade à pessoa até que o negócio deslanche.

PV – Sobre o livro que estão lançando, como chegaram ao resultado final?

G.T.– Viajamos por 59 países, dos cinco continentes, sem nenhuma pretensão de escrever um livro e sem aguçar o olhar para quaisquer semelhanças entre os lugares que visitávamos e a nossa terra, Minas Gerais. Mas, em uma dessas idas e vindas ao Brasil, o amigo e produtor cultural Dalton Miranda apontou para uma similaridade entre o Uluru (Ayers Rock), uma imensa rocha presente no outback Australiano, e um paredão de pedras na Serra da Canastra. A partir daí, ficamos fascinados com a possibilidade de buscar o elo que liga Minas à cultura de outros países. Assim nasceu o livro e a exposição fotográfica O Mundo em Minas.

Ao perceber que imagens e flagrantes captados nos lugares mais remotos do mundo remetiam ao que há de mais arraigado na cultura de Minas Gerais, a necessidade de buscar um paralelo entre o local e o universal se tornou uma verdadeira obsessão. Com um mapa de Minas nas mãos, nós dividimos o estado em dez regiões e visitamos mais de 100 cidades. E nessas viagens, nós comprovamos que culturas que, à primeira vista distantes de nós, vão, aos poucos, se aproximando de universos paralelos e com impressionantes afinidades. Esta correlação se faz presente em crenças, folclores, ofícios, paisagens, transações, meios de transporte…

Um exemplo de comparação feita no livro é Santana do Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (MG) com Myanmar (fotos abaixo): ” É na poeira das estradas de terra que Minas Gerais se revela ao mundo. Seja no rastro de cavaleiros de Santana do Araçuaí ou no charme rudimentar dos carroções de bois que cortam o sertão mineiro e fazem lembrar, com o ranger de suas rodas empenadas, a trilha sonora de Myanmar, um país que, depois de meio século fechado sob as mãos de ferro da ditadura militar, começa a sentir o sopro dos ventos da mudança.”

Foto: Renato Weil

Carroções de boi e um templo budista em Bagan, Myanmar, no Sudeste Asiático

 

Renato Weil 2014.Joaima-MG.Cavaleiros na estrada de santana do aracuai

Santana do Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais

 

Anote na agenda

Exposição O Mundo em Minas
De 12 de agosto a 27 de setembro de 2015

Horários

Terças, quartas, sextas-feiras e sábados: das 10h às 17h30

Quintas: das 10h às 21h30

Domingos: das 10h às 15h30

Onde

Memorial Minas Gerais Vale – Praça da Liberdade, 640 – esquina com Rua Gonçalves Dias – Bairro Funcionários

(31) 3308-4000

www.memorialvale.com.br

 

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