Norte de Papel

Lagos Branca

Lagos é branca, como todas as cidades de Portugal.

Eu quero escrever, mas eu troco as manhãs silenciosas de concentração, por manhãs tediosas de desperdício. E me odeio todos os dias.

Tudo o que me chama a atenção é superficial. Eu vejo a cidade, mas sei que o que estou vendo não é Lagos. Eu vejo os cardápios em inglês e alemão, vejo os cafés que tem sucos naturais e os que não tem, vejos as praias de cartão postal.

Mas não vejo que a turista está viajando para curar um luto. Não vejo que o rapaz que me atendeu na loja de souvernirs sente saudade de casa. Também não vejo que aquele castelo bonito na beira da praia guarda um histórico terrível de escravidão.

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A viajante que quero ser

Hoje não serei a viajante que sou, mas sim a que eu quero ser. Hoje entrarei aos museus para desenhar os quadros, e cantarei músicas nas esquinas para entreter os transeuntes.

Nadarei sob a lua na praia com a bioluminescência, e farei um pedido que me transformará em uma das sereias do mediterrâneo. Hoje visitarei todo o tesouro do fundo do mar, me vestirei de todas as jóias que eu puder encontrar, e irei às festas que dão os golfinhos. Voltarei à superfície quando sentir falta do oxigênio que queima meus pulmões e me faz ser de todas as cores como as flores.

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Sevilha numa quinta-feira à tarde

Carros elétricos, patinetes elétricos, pessoas elétricas. Eu também sou elétrica. Todos os bancos da cidade estão ocupados. Os que estão ao sol, não. Mas alguns, sim. Quem são os espanhóis, como são os espanhóis? Desde que cheguei à Espanha, não conheci nenhum!

Eu achei que a Espanha era feita de Flamenco, de Paella e de cidades amarelas. Mas ela é feita de ligações de trabalho, de TO DO LISTs, e de manhã preguiçosas. Em meu ouvido soa música local, como uma tentativa desesperada de que Sevilha se pareça a Sevilha. Mas ela apenas é.

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28 dias entre o Flamenco e o Fado: o desafio!

Há 35 dias eu cheguei à Europa para fazer uma viagem que eu estou planejando há tanto tempo que eu nem saberia dizer quanto. Já acrescentei 3 países à minha lista, já aperfeiçoei planilhas de controle financeiro, comecei um caderno de colagens com as entradas de museu e os cartões de embarque. Mas ainda nenhuma palavra sobre a viagem.

Nos últimos quatro anos eu tenho estado escrevendo, mas não é sobre viagem porque embora eu passe o tempo inteiro viajando, estava não-viajando segundo meus critérios. Daí, eu comecei a viajar-segundo-meus-critérios, e não estava escrevendo porque estou ocupada demais aproveitando a viagem e não dá tempo de escrever.

Eu pensei em retomar o Planejo Viajar muitas vezes, mas eu mudei tanto enquanto viajante e minhas viagens mudaram tanto que eu não encontrava mais o caminho. Houve tentativas. Os últimos dois textos publicados são a prova. As raras dicas compartilhadas no Instagram mostram que houve a intenção.

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