Norte de Papel

28 dias entre o Flamenco e o Fado: o desafio!

Há 35 dias eu cheguei à Europa para fazer uma viagem que eu estou planejando há tanto tempo que eu nem saberia dizer quanto. Já acrescentei 3 países à minha lista, já aperfeiçoei planilhas de controle financeiro, comecei um caderno de colagens com as entradas de museu e os cartões de embarque. Mas ainda nenhuma palavra sobre a viagem.

Nos últimos quatro anos eu tenho estado escrevendo, mas não é sobre viagem porque embora eu passe o tempo inteiro viajando, estava não-viajando segundo meus critérios. Daí, eu comecei a viajar-segundo-meus-critérios, e não estava escrevendo porque estou ocupada demais aproveitando a viagem e não dá tempo de escrever.

Eu pensei em retomar o Planejo Viajar muitas vezes, mas eu mudei tanto enquanto viajante e minhas viagens mudaram tanto que eu não encontrava mais o caminho. Houve tentativas. Os últimos dois textos publicados são a prova. As raras dicas compartilhadas no Instagram mostram que houve a intenção.

Não há provas, contudo, do quanto esta ideia tem martelado minha cabeça neste tempo. Ela já usou a vergonha, a compaixão, a utilidade, tortura. Ela já me inscreveu numa oficina de redação que não rendeu absolutamente nada. Recorreu até a medidas mais extremas se utilizando repetidas vezes de outras pessoas para me fazer perguntas desconcertantes como: “Você ainda escreve no Planejo Viajar?” ou pior: “E aquele livro que você estava escrevendo sobre sua viagem?”

Até que nesta madrugada de 18 de setembro de 2019 esta ideia não me deixou dormir e me arrastou para o computador para escrever. Não apenas escrever como eu fazia nos últimos anos, em cadernos secretos que nunca tocarão outros olhos, e sim aqui: no Planejo Viajar. Escrever sobre viagens, sobre a minha viagem e principalmente escrever para que outras pessoas possam ler.

Buscando reforços

Não se retoma um blog assim, depois de 4 anos, sem recorrer a uma mão amiga. Neste caso, recorri a Magalí Vidoz, autora de Memorias de la Luz, e de um blog maravilhoso que foi incendiado junto com tantas outras palavras da Maga, o Camino Mundos. Resolvi aceitar um desafio que a Ana de 2015 fez para a Ana de 2015, mas ela abandonou, e que então a Ana de 2019 resolveu que era hora de concluir.

Conheci a Magalí em Bariloche durante meu ano sabático. Na época ela já era uma veterana viajante, que passou pelo hostel onde eu estava e deixou um rastro de poesia. Àquela feita, apaixonada por tudo que a Magalí escrevia, me inscrevi em sua oficina de redação de viagens, Norte de Papel*. Até ontem, as aulas estavam guardadinhas aqui em meus arquivos mágicos esperando o momento de vir me resgatar.

Hoje, nesta madrugada de fim de verão em Sevilha, esta Ana aqui resolveu que precisa voltar, que não consegue mais viver sem escrever, e que já não quer se esconder no conforto da privacidade. Esta Ana aqui quer achar o caminho de volta para as palavras que contam lugares, e neste meio tempo contar a si mesma.

O plano

Desconfio que tenho uma quedinha pelas ideias que às vezes é mais interessante do que a realidade. De qualquer forma, e até por isso mesmo, aqui vai a ideia!

É muito simples: seguir os exercícios do Norte de Papel nos próximos 28 dias, e publicar diariamente no Planejo Viajar os resultados.

Como hoje completa-se 25 anos que Amyr Klink completou a travessia ao Atlântico num barco a vela e escreveu “Cem Dias entre Céu e Mar”, então eu achei que seria uma boa homenagem para o livro dele, e também um empréstimo (roubo) muito conveniente para o título da minha reestreia no Planejo Viajar.

Me acompanhas nesta viagem, entre a Espanha e Portugal, entre o Flamenco e o Fado, entre o espanhol e o português, e entre as palavras que eu conseguir colocar no papel daqui até lá?

*Magalí retirou o blog Camino Mundos do ar bem como a oficina Norte de Papel. O trabalho dela que continua disponível é o La Guía de House Sitting.

Padrão

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *