Às vezes é importante saber disso antes de tomar a decisão. Eu quero viajar por meses, mas o que acontece depois do Ano Sabático? Como eu consigo outro emprego? Como eu uso os aprendizados da viagem na minha rotina? Como eu me acostumo a não viajar novamente?
Primeiro, todas as suas preocupações são verdadeiras! Você vai voltar da viagem sem emprego e sem dinheiro, porém mais tranquilo, motivado e inspirado. Vai se conhecer muito melhor. Estará louca para matar as saudades de todas as pessoas de quem você ficou longe, e também vai se irritar um pouco por tudo estar tão igual ao que deixou.
O período de transição, entre o retorno da viagem e a recolocação no mercado de trabalho, a readaptação à rotina será o mais difícil. Mas quando ele passar, você conseguirá enxergar claramente quais foram os ganhos para o seu bem-estar e a busca da sua felicidade proporcionados pelo período sabático.
Mas afinal, o que eu posso fazer? Como aproveitar a experiência para conseguir um emprego e uma rotina melhores? Continue lendo.
Como conseguir outro emprego depois do ano sabático?
Antes da minha viagem, que começou em janeiro de 2014, eu li e reli 300 vezes todos os blogs de pessoas que tinham feito voltas ao mundo, com muita atenção para a parte que falava sobre o retorno. Sem exceções, todos pareciam muito satisfeitos por ter aprendido a viver com menos, muito motivados a abrir um negócio e a participar de entrevistas de trabalho com recrutadores empolgados pela experiências que eles acabaram de viver.
Tenho que admitir que esta “promessa” me deixou bem animada e mais confiante em pedir demissão do meu emprego estável como servidora pública para viajar em busca de experiências.
Selecione as vagas
Mas eu queria alertar aqui de que o “diferencial” de ter vivido um ano sabático não vai ajudar muito se você não souber selecionar as vagas para as quais se candidatará e inserir o ano sabático da maneira correta no seu currículo.
Conseguir um emprego é muito parecido a conseguir um namorado. O primeiro aspecto que afasta os possíveis pretendentes é o candidato desesperado. Já viu como é desinteressante quando a pessoa transparece que está disposta a qualquer coisa, porque não quer mais ficar sozinha?
Com o emprego é a mesma coisa. Não se candidate a vagas para as quais você não cumpre os requisitos porque nem mesmo a incrível e “exótica” experiência de ter vivido o Ano Sabático vai garantir a sua contratação. Não se desespere por estar sem emprego. Afinal, você não saiu de uma vaga bacana para voltar e aceitar qualquer coisa, né?
Isso vai apenas gerar frustração, num momento tenso em que você precisa de auto-confiança. Você estará sem dinheiro por causa da viagem, mas tem que saber exatamente qual é o tipo de cargo que quer ocupar.
Em vagas de seu interesse, adicione o Ano Sabático no currículo com data, lugares visitados, experiências de trabalho voluntário, ou algum projeto cumprido durante a viagem. Escalou uma montanha? Viveu um mês numa tribo isolada? Relate o que atesta que você é determinado, rompe desafios, sai do óbvio. Coloque a experiência como informações adicionais, mas com o destaque merecido.
Tenha uma reserva
Para passar melhor por esta fase de transição, reserve no orçamento da viagem uma quantia suficiente para viver alguns meses enquanto procura trabalho. Não precisa ser o mesmo que você gasta hoje, pode ser bem menos. Às vezes um salário mínimo por mês pode ser suficiente.
Faça contatos antes e durante a viagem
Já comece a pesquisar as alternativas de trabalho antes da viagem. Ao sair do seu trabalho, deixe contatos na manga. Comente com algumas pessoas que podem indicar você para trabalhos ou empregos, explique quais são seus objetivos com a viagem e depois dela.
É verdade que muita coisa pode mudar durante este período – inclusive parte da graça é justamente não saber o que vai acontecer. Mas não custa ter esta preocupação.
Eu saí para a viagem com uma idéia de trabalho para quando voltasse. Mesmo sem ter certeza do que eu queria fazer, escrevi para várias pessoas que conheci por causa do meu emprego anterior e comentei que estava tirando um tempo para mim, e que voltaria um ano depois para atuar como consultora.
Estas pessoas me acompanharam durante toda a viagem e me mantiveram em mente. Ao voltar, elas me admiravam e me indicaram para trabalhos como consultora.
O minimalismo
Eu estava muito orgulhosa da minha mala de 10kg durante toda a viagem. Ali eu tinha todas as roupas que eu precisava para fazer uma trilha, uma entrevista de emprego e sair a noite. Eram basicamente as mesmas peças, apenas com acessórios e atitudes diferentes.
Antes da viagem me lembro de ler muitos relatos falando exatamente que as pessoas aprenderam a viver melhor com menos, comendo melhor e enxergando a beleza nas pequenas coisas.
Andar pelas ruas de uma grande cidade observando as pessoas passou a ser um programa bacana para um dia de semana à tarde. Sentar em um parque com um garrafa de vinho, um queijo e algumas frutas virou o ideal de um dia perfeito.
O desafio é se manter neste mesmo estado de espírito quando você volta para casa. É frustrante perceber que enquanto você mudou e aprendeu a viver com menos, seus amigos e família não fizeram o mesmo movimento. Eles continuarão convidando para restaurantes caros e não estarão nem um pouco dispostos a ser mochileiros em suas cidades.
Vai caber a você decidir o quanto do minimalismo da viagem vai querer implementar em sua vida. Quais hábitos de alimentação, exercício físico e consumo vai manter após voltar.
O estresse
Ficar duas horas dentro de um ônibus não é lá tão sofrido. Você se distrai, olha pela janela, escuta expressões diferentes, observa as pessoas. Pensa na vida, pensa no quanto você é abençoado por estar vivendo aquela experiência e sente o prazer da expectativa para chegar a um lugar diferente.
Em casa, as pessoas não são tão exóticas. Na verdade são bem previsíveis. Enquanto você tenta manter a calma, elas estão sendo grosseiras e violentas no trânsito. O lugar para o qual você está se dirigindo não é nenhuma novidade.
Muito rápido, o estresse com o trânsito vai te agarrar novamente. E novamente a responsabilidade será sua de manter a curiosidade e a criatividade ativas enquanto faz atividades estressantes, como encarar um engarrafamento.
Em seu novo trabalho, também estarão presentes todos os elementos que antes faziam com que você não estivesse satisfeito com a sua rotina. A idéia é depois da viagem procurar um trabalho que seja mais de acordo com você, mesmo que o salário seja um pouco menor. Algo mais parecido com suas expectativas, e onde você possa usar a motivação e a criatividade conquistadas ao longo da viagem.
Uma dica final
Evite falar mal do seu trabalho em qualquer manifestação pública sobre a sua decisão de pedir demissão e viajar. Não há nada mais antiético do que você falar mal de uma empresa ou do seu cargo depois que sair da empresa. Eu sei que muitas vezes pedimos demissão porque não concordamos com a cultura organizacional, ou até por não concordar com atitudes corruptas dos líderes. Contudo, isso não precisa ser publicado no facebook, blog ou no seu discurso de despedida num bar lotado de pessoas.
Reserve o seu desabafo para amigos mais próximos ou para um diário pessoal. Para o mundo, você quer aparecer como alguém positivo, que está tomando esta decisão por causa de todas as oportunidades que ela traz, e não porque já não aguentava mais uma vida horrível no trabalho anterior.
O Ano Sabático pode ser a melhor escolha da sua vida. Por mais que eu tenha tentado mostrar todos os lados negativos e difíceis do seu retorno, não consigo imaginar um cenário em que esta viagem tenha sido uma decisão ruim. Mesmo quando você demora um pouco a se reencontrar, tudo o que você construir pessoal e profissionalmente após o Ano Sabático será muito mais maduro, criativo e honesto com você mesmo.
O meu principal conselho para afastar de vez suas dúvidas é o planejamento. Tenha um plano minimanente traçado dos seus objetivos com a viagem e uma reserva financeira para o retorno. Desta forma, você conseguirá ter uma experiência incrível e valiosa para a sua vida.