Estou em Bariloche, na Argentina, sentada em frente a uma janela vendo a neve cair e escutando um jazz instrumental dos anos 30 – que segundo um amigo, é música de neve. Quantas vezes você já fez isso?

Para mim é a primeira. A primeira neve que me inspira a escrever depois de horas de contemplação silenciosa e de uma caminhada pela rua para senti-la caindo sobre mim.

Minha vontade agora é parar o tempo. Quero que este momento dure para sempre. Porque nunca mais nenhum dia nevado vai ser como hoje. Hoje vai ser para sempre o primeiro dia de neve da minha nem tão curta vida.

Em Mendoza, em uma vinícola de frente para a Cordilheira dos Andes, um objeto me chamou atenção. Havia na entrada uma daquelas torneiras que parecem que não estar ligadas a nenhum cano. Me lembrei imediatamente da primeira vez que vi uma delas quando criança. Enquanto eu examinava o objeto intrigadamente, os adultos que assistiam riam. Provavelmente pensavam como o mundo é muito mais interessante para uma criança.

Depois que nos tornamos adultos nos cercamos do familiar, por comodidade, e as descobertas ficam cada vez menos frequentes. Por mais que haja sempre uma palavra nova, um novo procedimento no trabalho, com que frequencia experimentamos algo realmente novo? Qual foi a última vez que uma situação o impressionou como a uma criança?

O novo nos move. A curiosidade nos faz sair de onde estamos e investir tempo e dinheiro para experimentar, aprender. É essa inquietude pelo que ainda não temos, não vivemos, não sabemos que dá sentido à vida.

Minha nova forma de viver é uma busca, às vezes desesperada, por este tipo de emoções. Seguirei pelos lugares, mesmo onde já estive, buscando novas histórias, atividades, paisagens. Novos desafios para superar. Estou orgulhosamente viciada em fazer as coisas pela primeira vez.

Por sorte o mundo é muito grande. A humanidade que “cria e destrói coisas belas” inventou muitas coisas para além do nosso cotidiano. Sempre vai haver algo diferente em algum lugar do mundo. Algo para nos tirar da comodidade de caminhar pelo mesmo trajeto todos os dias, comer o mesmo prato do cardápio, ou conversar sempre com as mesmas pessoas.