Palpitando, Sabático

Você não precisa largar tudo para viajar por meses!

Às vezes quando eu leio esses textos sobre largar tudo para viajar eu fico com a impressão de que conhecer o mundo é uma alternativa desesperada de pessoas que vivem vidas horríveis. Quem vive uma vida incrível não se interessa em viajar o mundo por meses?

Como se todas as pessoas que abrissem mão do emprego e fossem viver uma viagem tivessem ao mesmo tempo se curado de todos os males da alma e descoberto o segredo da felicidade.

Nada poderia ser mais falso. É hora de começar a falar a verdade sobre largar tudo para viajar. Talvez os que estejam espalhando sua mensagem sejam os que ficaram bem e conseguiram se encontrar, mas eu conheci várias pessoas durante a viagem que não tiveram a mesma trajetória. Elas largaram tudo, viajaram, gastaram todo o dinheiro, não conseguiram fugir dos seus problemas, e voltaram para casa cabisbaixos. Ou outros que eu vejo que ainda não concluíram este ciclo, mas estão caminhando para isso.

Viajar para fugir, para esquecer os problemas é uma armadilha. Lá do alto da montanha mais alta dos Andes ou do Himalaia estes problemas vão mandar um recado de que estão esperando pacientemente a sua volta.

 

Viajar por meses, sem largar tudo!

Eu quero ser alguém que inspira e ajuda as pessoas a viajarem o máximo que elas podem, mas sem irresponsabilidades. Sem falsas pregações.

É preciso falar sobre ano sabático, sobre como se planejar para tirar o melhor desta aventura, e sobre como criar um significado e um plano completo de vida no qual inserir o ano sabático.

Vamos ilustrar com o cenário mais comum: você está num trabalho que odeia. Você luta contra si mesmo todas as manhãs para levantar e ir para o trabalho; fica olhando o dia ensolarado pela janela e querendo estar lá fora fazendo qualquer coisa menos o seu trabalho; você está adoecendo; começou a ser uma pessoa negativa e amarga com seus amigos.

Se eu acho que é hora de você largar tudo?? Pode ser. Provavelmente o primeiro “tudo” que você precisa largar é o seu emprego, mas infelizmente largando o emprego o seu aluguel e as contas de água, luz, e supermercado não podem ser largadas também.

Porque você não faz um plano de se conhecer melhor, entender quais são as coisas que você gosta de fazer, qual seria seu emprego dos sonhos e então encaixa um ano sabático neste projeto? Um plano que envolva ler livros, fazer psicoterapia, sessões de coaching e que seja finalizado com alguns meses em outro país trabalhando como voluntário ou fazendo um curso para a sua nova carreira?

A viagem pode até vir antes, mas entende que se você não atacar a raiz do problema, o mais provável é que você voltará para casa quando seu suado dinheirinho (que você passou anos juntando) acabar e terá que encontrar outro emprego igualzinho ao anterior?

Outro cenário: seu relacionamento acabou. Você já não sabe mais quem é, não consegue imaginar sua vida sem seu antigo parceiro, caminhar pela rua é uma tortura porque cada esquina da cidade guarda as lembranças do seu romance.

Se viajar imediatamente é o melhor para você? Provavelmente.

Viajar sozinha pode ser a melhor forma de se conectar a você mesma, conviver um pouco com sua companhia e reaprender quem você é enquanto pessoa, não mais enquanto metade de um casal.

Mas também é preciso se cuidar um pouco antes de se afastar de todas as pessoas que gostam e se importam com você. Eu mesma já me apeguei a amigos recém-conhecidos e a romancezinhos de verão por não estar bem comigo mesma. Esperei de pessoas que eu tinha acabado de conhecer o cuidado e o acolhimento dos meus amigos aqui de casa. E não dá para esperar isso das pessoas!

Talvez neste caso a viagem pode sim ser deixada para o final do processo, para quando você já usou e abusou do colo dos seus amigos e familiares, quando já se dedicou a redescobrir as coisas que você gosta de fazer nesta nova fase da sua vida, quando já esperou a poeira baixar.

Quando faltar aquele último passo, vá! Vá aberta a conhecer novas pessoas, mas a não se entregar tão facilmente. Quando a companhia das pessoas seja uma opção leve, e não uma necessidade.

 

E se estiver tudo bem?

Outro cenário pouco explorado é quando você mora numa cidade que gosta, cercado por pessoas maravilhosas e num emprego bacana que você não gostaria de perder.

Se você deve viajar? SIM!!!! Claro! Se você já tem uma vida incrível tem todas as condições de deixá-la ainda mais incrível!

Eu conheci pessoas que conversaram com o chefe, explicaram que queriam viver uma experiência diferente e que gostariam de tirar uns meses de férias. Pegaram parte da poupança, ou venderam alguns bens e saíram para conhecer o mundo. O que elas deixaram? A porta aberta para quando voltassem.

Quando você tem um plano claro, mesmo estando aberto a mudar de idéia no caminho, as pessoas a respeitam. Elas entendem que para você pode ser importante viver um ano fora do seu país para aprender outra língua, fazer trabalho voluntário, trilhas super difíceis e escalar vulcões, ou simplesmente para viver um ano sem compromissos de trabalho.

 

Inconsequência não é liberdade

Tem um desses ditados antigos que diz que somos escravos das nossas decisões. Tudo o que fizermos na vida ficará marcado em nossa história e determina quem somos. Não podemos apagar nada do que passou.

Claro que uma viagem pelo mundo nunca é uma decisão ruim, porque independente do que acontecer, você vai aprender e crescer muito. Mas, porque não aproveitar a oportunidade, e todo o esforço que é juntar dinheiro durante meses, e fazer uma viagem melhor planejada?

Porque não entender que não podemos fugir dos nossos problemas, e que a viagem não vai solucionar nada para nós? E então ser capaz de dar um significado para ela. Voltar para casa tranquilos e seguros de que, mesmo com todos os desafios que teremos pelo resto de nossas vidas, nós nos tornamos pessoas melhores. Mais fortes, mais calmos e mais otimistas.

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Três coisas que eu aprendi pedindo demissão para viajar

Faz pouco mais de um mês que eu pedi demissão do meu trabalho e vim para o México. Eu não sei se eu vou passar um semestre aqui, se estou dando a volta ao mundo, ou se vou imigrar para outro país. Só sei que fico dois meses na ilha de Cozumel e que não faço idéia do que farei depois.

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