Bate-Papo, Pará

Turismo Comunitário na Amazônia, já ouviu falar?

Qual é a primeira imagem que vem à sua cabeça quando ouve a palavra “Amazônia”? Na minha cabeça vem a imagem de um rio muito grande, muito grande mesmo, e um barquinho pequenininho perdido lá no meio. Nas margens longínquas, a floresta.

Sim, porque antes de visitar a região, eu pensava numa mata fechada e talvez em um dia-a-dia tipo reality show de sobrevivência na selva, mas estando lá você tem uma certeza: a Amazônia é água. Rios mais largos do que em qualquer outro lugar no mundo, não apenas na foz em delta, e sim em seu leito normal.

Os rios são as estradas e as ruas, e a beira dos rios é onde vivem as pessoas. Em comunidades consideradas próximas quando há “apenas” uma viagem de dois dias entre uma e outra. Pessoas que vivem do que a floresta os oferece, num lugar onde o tempo tem um ritmo próprio.

 

Conhecendo a comunidade da Ilha do Pesqueiro em Soure, Ilha do Marajó

Conhecendo a comunidade do Pesqueiro em Soure, Ilha do Marajó

Visitei a Amazônia duas vezes, a trabalho, para conhecer comunidades que ofereciam passeios turísticos. O Turismo de Base Comunitária sempre foi uma paixão, desde a época da faculdade. Na minha primeira viagem fui à mítica Ilha do Marajó, e conheci a capital Belém. Na segunda fui a Barcelos, em uma viagem de dois dias de barco Rio Negro acima, no Amazonas.

A floresta em si, seus animais, a majestuosidade dos rios são riquezas inegáveis. Mas nem só delas é feita a Amazônia. Ali vivem pessoas. Indígenas, ribeirinhos, brasileiros como nós. Que também gostam de futebol, que também discutem política, e que conhecem cada segredo da floresta. Pessoas orgulhosas de nos levar para conhecer os mistérios, contar os causos e cozinhar um peixe que acabou de ser pescado.

Eu sempre gostei de trabalhar com projetos de Turismo Comunitário por causa da relação mais justa com as comunidades. Ao invés de um cara de fora chegar no local, abrir os hotéis e restaurantes e levar o lucro todo dali, a comunidade é quem presta os serviços, e é ela quem fica com o lucro. Então a cultura local é valorizada, e é uma forma complementar de trabalho para quem mora no local.

Gabi e eu subindo o Rio Negro de barco - Amazonas

Gabi e eu subindo o Rio Negro de barco – Amazonas

Num evento de Turismo comunitário em Georgetown, na Guiana, eu conheci a Ana Gabriela Fontoura, ou como eu gosto de chamar, a Gabi. Uma paraense muito orgulhosa que dá aulas de dialeto pai d´égua a todos que conhece. Daquele encontro surgiu uma amizade, e já fomos a Foz do Iguaçu, de barco pelo Rio Negro e já nos encontramos em Belém e em Brasília.

Dia 5 de setembro, foi o dia da Amazônia. Também foi o aniversário do estado do Amazonas, o dia da Raça, e o dia em que a Estação Gabiraba, a agência de ecoturismo de base comunitária da Gabi completou 8 anos. Em comemoração a tudo isso, fizemos uma entrevista com a Gabi, para conhecer mais sobre a região e sobre esta forma alternativa de turismo!

 

Como são os passeios do Turismo Comunitário da Estação Gabiraba?

Rio Arapiúns em Santarém no Pará

Rio Arapiúns em Santarém no Pará

Os passeios são desenhados para promover a interação entre visitantes e moradores, ou seja, é feita para aproximar quem chega e quem recebe. A maioria das viagens envolve passeios de barco, pela dinâmica da nossa região ser baseada muito na relação com os rios.

As atividades que compõem os roteiros vão desde oficinas de artesanato, para aprender a tecer a palha, por exemplo, como remar em canoas regionais, tomar banho de iagarapé e em praia de água doce e ajudar a fazer a farinha de mandioca.

Em cada roteiro a hospedagem é feita de uma forma. Em alguns casos, hospedam-se nas cidades em hotéis e pousadas. Em outros, a acomodação é no barco ou nas próprias comunidades, em pousadas comunitárias ou casas de moradores.

Descansando depois do almoço em Boa Vista do Acará, próximo a Belém

Descansando depois do almoço em Boa Vista do Acará, próximo a Belém

A alimentação é feita pelos grupos das comunidades e são um ponto alto dos roteiros! As avaliações são sempre muito positivas em relação à este item, que é um diferencial por conta da gastronomia tão rica e deliciosa da Região Norte do Brasil, com uma infinidade de frutas, peixes e receitas próprias daqui.

Temos roteiros desde 1 dia ou 1 manhã até 21 dias. Além daquelas opções específicas de viagens que montamos para grupos educacionais ou empresas, por exemplo, que podem durar 1 mês ou mais.

“Minhas expectativas foram superadas. Queria conhecer uma comunidade que trabalha com turismo sem ser ter seus valores e modo de vida deteriorados. Não imaginei encontrar a alegria e brilho nos olhos que vi nas pessoas nem ser tão bem recebida.” (depoimento de turista)

Para onde são este passeios?

Oferecemos viagens para diversos destinos no Pará, Amazonas, Amapá, Acre, etc. Por exemplo, a partir de Belém, as pessoas podem conhecer as comunidades Boa Vista do Acará e Ilha de Cotijuba, para entender o cotidiano daqueles que moram na região ribeirinha da capital paraense. Ou saindo de Santarém, podem viajar de barco pelos rios Tapajós e Arapiuns e conhecer Alter do Chão e comunidades na Floresta Nacional do Tapajós e na Reserva Extrativista Tapajós/Arapiuns.

Ilha de Cotijuba, próxima a Belém do Pará

Ilha de Cotijuba, próxima a Belém do Pará

Qual é o toque especial das viagens que você oferece?

A Amazônia é vastamente conhecida pelos seus atributos naturais que, sem dúvida alguma, são ricos, diversos e impressionantes pela enorme beleza. Porém, a região é mais grandiosa ainda quando se trata das pessoas e das culturas locais. Nesse sentido, as viagens que organizamos tem como foco central a oportunidade de ir além da contemplação das paisagens e da vivência na natureza (importantes e também presentes nos passeios), aprofundando a ligação com as populações tradicionais e valorizando os seus modos de vida.

O toque especial é a relação de confiança estabelecida com os moradores e com todos os envolvidos no trabalho e o sentimento de pertencimento à Amazônia que permeia nossas ações.

Turistas e moradores em Boa Vista do Acará, Pará

Grupo da viagem a Boa Vista do Acará, Pará

 

Parabenizo a Estação pelo enfoque diferenciado dentro do trade turístico. O empenho e carinho colocados no trabalho são bem evidentes.” (depoimento de turista)

Porque você começou a Estação Gabiraba?

Atuo há treze anos na área de ecoturismo e uso público em Unidades de Conservação. Em 2007, quando tinha 24 anos, decidi empreender e fundei a Estação Gabiraba, uma operadora de ecoturismo de base comunitária que atua em parceria com populações tradicionais e organizações locais na região amazônica. Pois, já trabalhava com Turismo de Base Comunitária (TBC) e via que uma das maiores dificuldades era a comercialização das viagens de uma forma diferente, que envolvesse os moradores ativamente na gestão do turismo em seus espaços.

A ideia era mostrar que é possível atuar no TBC na iniciativa privada. Empreender na Amazônia não é tarefa fácil, ainda mais, sendo mulher. No início, as pessoas diziam que nosso modelo de negócio não ia durar mais de dois anos. Por isso, estamos super felizes em comemorar 8 anos de atuação.

Açaí no porto de Belém do Pará

Açaí no porto de Belém do Pará

Como fazer Turismo Comunitário em suas viagens?

O Turismo Comunitário ainda está crescendo no Brasil. Ainda é difícil encontrar informações turísticas sobre as comunidades e sobre os passeios que elas oferecem. Como a Gabi disse na entrevista, a maioria dos passeios é administrada por ONGs e Associações de moradores, que tem dificuldade de fazer a promoção e a comercialização. Mas tente procurar passeios assim em suas próximas férias, há comunidades recebendo turistas em todo o Brasil.

Na Amazônia, é só falar com a Gabi. Ela pode levar você para um dos passeios que ela citou, ou até mesmo fazer um roteiro sob medida para você e seus amigos. O contato com ela é pelo email contato@estacaogabiraba.com.br e pela página do facebook.

Vida longa à Estação Gabiraba! E para você, leitor, boa viagem!

Rio Tapajós em Santarém

Rio Tapajós em Santarém

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