Lagos é branca, como todas as cidades de Portugal.
Eu quero escrever, mas eu troco as manhãs silenciosas de concentração, por manhãs tediosas de desperdício. E me odeio todos os dias.
Tudo o que me chama a atenção é superficial. Eu vejo a cidade, mas sei que o que estou vendo não é Lagos. Eu vejo os cardápios em inglês e alemão, vejo os cafés que tem sucos naturais e os que não tem, vejos as praias de cartão postal.
Mas não vejo que a turista está viajando para curar um luto. Não vejo que o rapaz que me atendeu na loja de souvernirs sente saudade de casa. Também não vejo que aquele castelo bonito na beira da praia guarda um histórico terrível de escravidão.
Eu vejo a arquitetura, vejo as ruas pedonais, vejo a cara das pessoas. Quem são os portugueses? Quem são os estrangeiros? E falo inglês.
Eu quero escrever mas não vejo Lagos. Ao invés disso, durmo. De tarde me sento no mesmo café de todos os dias para trabalhar. “A Smoothie Verry Berry, please”. Por que não falo em português?
Não vejo o que preciso escrever, não consigo ir mais fundo em Lagos, porque estou presa na superfície. Saio, e ponho os pés na água do mar. Gelada. Superfície.
Na Ponta da Piedade sinto medo de altura. Meu medo das coisas que eu mais desejo me fez entrar ao mar com colete salva-vidas. Explorar as cavernas protegida da selvageria do oceano e dos meus pensamentos.
Amanhã eu tentarei novamente. Olhar para Portugal e ver Portugal