Uma família de Belo Horizonte escapou por pouco de estar no aeroporto de Zaventem, em Bruxelas, no momento das duas explosões causadas por homens-bomba do Estado Islâmico, terça-feira passada (dia 22). O cartunista e multiartista Mario Vale conta ao Planejo Viajar o susto que passaram ele, a mulher, Mônica Sartori, artista plástica e os dois filhos, Luis e Pedro, artistas circenses. “Foi por um triz”, arrepia-se Mario.
Terror em Bruxelas
Atualizado em 29/03/2016, às 19:26
Os atentados em Zaventem e na estação de metrô de Maelbeek já somam 35 mortes, incluindo pessoas de 12 nacionalidades, e 340 feridos, de acordo com o Centro de Gestão de Crise, em Bruxelas. As duas explosões ocorreram em duas áreas de check-in para onde provavelmente se dirigiriam Mario e Mônica.
O casal estava no táxi, indo para o aeroporto, quando recebeu a ligação do filho Luis, que os esperava em Helsinque, na Finlândia, onde mora. “O aeroporto explodiu”, disse Luis.
Quase em seguida ficaram sabendo que o metrô de Maelbeek tinha sido atingido. Foi quando os planos mudaram completamente.
Por um triz
Os irmãos tinham se apresentado, nos dias 18 e 19 no Festival UP!, em Bruxelas, o espetáculo DOIS, que mistura tiro com arco, teatro visual e circo. Os pais, claro, tinham ido prestigiá-los.
Dois dias depois da chegada a Bruxelas, Mário e Mônica tiveram noticías de tiroteios em um dos bairros da cidade. (A polícia estava atrás de Salah Abdeslam, que está preso. Ele é considerado um dos cabeças dos atentados na França, em novembro de 2015, que deixaram 130 mortos.)
As notícias, porém, ainda não haviam alterado a viagem, embora a tensão estivesse no ar. Na estreia, o espetáculo dos filhos teve que ser atrasado para esperar parte do público, pois muita gente ficou retida no trânsito por causa dos tiroteios.
O clima de alívio ao verem Abdeslam capturado foi seguido da preocupação com uma possível retaliação. Foi o que se viu, no dia 22. “Acordamos bem cedo, fizemos as malas. Tínhamos contratado um táxi pra nos levar ao aeroporto às 9h. Lembro da Mônica comentar: se estivéssemos saindo do Brasil já estávamos atrasados’”, lembra o cartunista.
O taxista foi pontual. Quando estavam indo pegar o voo para a Finlândia, receberam um telefonema do filho, avisando que o Aeroporto de Zaventem tinha sido alvo de terroristas. Eram pouco mais de 9h da manhã, horário local. As explosões no aeroporto e no metrô ocorreram entre 7h58 e 9h da manhã.
Os relatos naquele momento eram de que um homem-bomba tinha matado mais de 10 pessoas e havia muita gente ferida. A notícia da explosão no metrô também já circulava. “A partir daí, caos total. Todo o transporte público parado, pessoas preocupadas por todos os lados, trancadas em casa. Cidade vazia, silenciosa, com uma tristeza e medo no ar. Ficamos assustados com a possibilidade de estarmos no aeroporto na hora do atentado. Foi por um triz”, conta Mario.
De busão para Amsterdam
Como já estavam entregando o apartamento alugado, aproveitaram o táxi e foram para a casa de uns amigos. Para chegar a Helsinque, o jeito foi pegar ônibus para Amsterdam, de onde finalmente tomaram o voo para a Finlândia. Mario e Mônica voltam ao Brasil sexta-feira. Conseguiram que a TAP remarcasse a saída de Helsinque. “Serão três escalas, mas vai valer a pena pois não vamos passar por Bruxelas”, diz Mario. A expectativa é de que o Aeroporto de Zaventem reabra hoje.
Na página do Aeroporto de Zaventem e em sua conta no Twitter (@Brussels Airport), passageiros podem ter todas as informações sobre situação dos voos.
Revolta e tristeza
Luis Sartori do Vale, 33 anos, e o irmão, Pedro, 30, são artistas circenses/espetáculo, formados pela renomada Escola Superior de Arts do Circo (Esac), na Bélgica. Luis e Pedro moraram em Bruxelas, mas Luis hoje vive em Helsinque e Pedro entre Brasil e Europa, por causa dos projetos artísticos dos dois.
Eles passam a maior parte do tempo viajando, com diferentes projetos e espetáculos. Na maioria das vezes pela Europa, mas também pelo Brasil e outros continentes. Luis por exemplo, conta o pai, já se apresentou em mais de 20 países, e só no ano passado fez 70 viagens.
O artista se inquieta com a situação da cidade onde morou. “Ainda não voltou ao normal, há muita alteração no transporte e as pessoas estão revoltadas e tristes”, diz ele. Ontem, numa manifestação que era para ser pela paz, hooligans fizeram tumultos, gritando impropérios contra os muçulmanos que moram em Bruxelas.