O Museu Casa Leon Trotsky era um dos que eu mais esperava conhecer na Cidade do México. Para ser honesta, eu não sabia exatamente o que eu ia encontrar. Queria ao menos visitar seu túmulo.
Acontece que o Museu é muito mais do que a tumba de uma grande personagem da história do século XX. É dedicado aos seus dias no México, e conta um pouco da sua história. Sim, um museu bem acanhado para o fundador do Exército Vermelho que defendeu a República Soviética Russa de tantos ataques logo após a Revolução de 1917, e um dos maiores – senão o maior – opositor que o ditador Joseph Stalin já teve.
Após ser banido da União Soviética por suas diferenças políticas com Stalin, e de perder a autorização de viver exilado em outros três países, Trotsky finalmente conseguiu exílio no México. Aqui trocou o gelo da Noruega – no clima e na alma das pessoas – pelo calor humano da América Latina. Ele e sua esposa, Natália Sedova, se sentiram em casa, adotaram costumes de vestimenta e alimentação, fizeram amigos que consideravam família.
E não poderia haver continente mais contraditório para o destino que o esperava. Ao mesmo tempo em que ofereceu um pouco de alívio à rotina de perseguição que vinha enfrentando, foi palco para o derradeiro e bem sucedido ataque que lhe custou a vida.
O Museu Casa Leon Trotsky tem essa atmosfera. Retrata um homem sereno que gostava de coletar cactus para plantar em seu jardim e de criar coelhos, atividades para as quais se dedicava com a mesma disciplina da militância política. Mas ao mesmo tempo é um museu triste, a fortaleza na qual se trancou nos últimos meses sem conseguir evitar seu assassinato.
Os jardins, o escritório onde trabalhava e foi assassinado a mando de Stalin, a biblioteca, ou o guarda-roupa com alguns de seus objetos pessoais não tem qualquer graça especial. A vida daquela casa era justamente Leon Trotsky e sua fé inquebrantável no futuro da humanidade. A ausência dele é a maior marca do Museu.
“Posso ver a larga faixa de verde sob o muro, sobre ele o claro céu azul, e por todos os lados, a luz solar. A vida é bela, que as gerações futuras a limpem de todo o mal, de toda opressão, de toda violência e possam gozá-la plenamente“.
Trecho do Testamento Político de Leon Trotsky.
Sobre o Museu e o Instituto de Direito ao Asilo
Se hoje a casa está tão preservada, é graças ao amor incondicional de sua esposa, que tomou para si a missão de preservar a memória do marido. Seu neto, um dos poucos familiares que não foi assassinado pela ditadura de Stalin, morou no mesmo terreno nos anos seguintes, e recebia visitas de alguns curiosos antes que a casa fosse comprada e administrada pelo governo mexicano.
Hoje o Museu sobrevive da renda da bilheteria, um baixo orçamento do governo e doações. A entrada fica pela Avenida Rio Chorubusco, onde há uma galeria de fotos e objetos antes de chegar ao pátio, e finalmente à casa de Trotsky. O Instituto de Direito ao Asilo e às Liberdades Políticas também funciona no mesmo endereço.
São realizadas uma série de atividades de debate político, cine club, exposições de arte e lançamento de livros. A administração deixa claro que o Museu não é um espaço de “doutrinação política” (sic), e sim um difusor de história.
É uma visita que pode ser combinada com a visita à Casa Azul – Museu da Frida Kahlo, que fica a poucos quarteirões, e foi a primeira residência de Trotsky ao chegar no México.
O Ingresso custa $40 pesos mexicanos e há uma taxa para fotografia de $ 15. Fica aberto de terça a domingo de 10 a 17h. Visite o site do Museu.
Este é um capítulo importante na história do México. E sobretudo uma visita emocionante para os militantes de esquerda hoje, que nos sentimos um pouco herdeiros de Trotsky e do que ele representou na luta pelo socialismo. E por Socialismo queremos dizer um mundo mais justo, e não as barbáries que Stalin e outros ditadores fizeram em seu nome.
E o museu pequeno e esquecido no subúrbio da capital mexicana diz muito sobre o legado trotskista hoje no mundo. Pode ser pequeno e muitas vezes esquecido, mas não foi apagado. Está de pé, permanece vivo!
Uma pena que ele foi.
Sim, uma pena!
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Grande revolucionário e intelectual a serviço da libertação dos povos. Trotsky vive nas lutas dos trabalhadores do mundo inteiro.
Gostei muito de seu texto e fotos. Descreve muito bem o local e a sensação que se tem ao conhecê-lo. Me trouxe lembranças.
Tive oportunidade de visitar a Casa e, de lá, seguimos a pé para a Casa Azul de Frida.
O funcionário que conduziu a visita tem um entusiasmo , um carinho mesmo ,com toda a atmosfera histórica da casa. Foi uma visita que me surpreendeu e,ao extremo oposto da sua,não tinha nenhuma expectativa a respeito. Estávamos nos dirigindo a Casa Azul quando ,conversando com um morador que cuidava de sua calçada ele nos recomendou conhecer pois estava mais próxima do que a outra.
Foi uma ótima surpresa, como você descreveu, simples, porém, muito significativo.